Educação Amazônida






Foto: Divulgação
Até a Secretaria Municipal de Educação de Belém (Semec) abrir turmas do sexto ao nono ano na escola São José, localizada na ilha Grande, região insular de Belém, as crianças e seus pais precisavam acordar de madrugada, tomar um barco e atravessar o rio Guamá até o continente, aonde as crianças chegavam à sala de aula. Na volta, a mesma rotina de sofrimento e medo provocados pelos riscos da violência urbana. Com a mudança, o drama acabou e está servindo de exemplo no processo de ampliação do modelo da educação municipal de Belém, que almeja estabelecer diretrizes em educação com os alunos e seus familiares permanecendo em seus territórios de moradia e trabalho. Professores, educadores, acadêmicos, estudantes e comunidades estão participando do processo denominado de educação das florestas, das águas e dos campos.
O professor Salomão Hage, 62, titular da Universidade Federal do Pará e coordenador do Fórum Paraense de Educação do Campo, das Águas e das Florestas, está bastante otimista com o momento favorável à mudança. “Há quantos anos aguardamos por essa mudança, pois, é um reconhecimento que as escolas das ilhas de Belém não são escolas de periferias, mas escolas de territórios diferentes da linha urbana com comunidades quilombolas, extrativistas, ribeirinhas e isso faz crescer nossa esperança de que iremos mudar esse processo e criando uma educação dos campos, florestas e das águas”, disse o professor, durante o I Seminário de Educação do Campo, das Águas e das Florestas, promovido pela Secretaria Municipal de Educação em parceria com a Prefeitura de Belém, Universidade Federal do Pará, por meio do Instituto de Tecnologia, Educação e Ciência (ITEC). O evento ocorreu na terça-feira, 16, na UFPA e reuniu centenas de professores, educadores, servidores, alunos e comunidades.
Otimismo – O processo que busca a mudança nas escolas municipais localizadas fora da área urbana de Belém é comandado pela Secretaria Municipal de Educação (Semec). A titular da pasta, professora Araceli Lemos, é a maior entusiasta. Para ela, esse novo momento é fruto do reconhecimento do poder público à carga da ancestralidade que essas comunidades detêm ao longo dos anos, sem falar da comodidade e da segurança em assistir aulas pertinho de casa, no seu próprio território.
“Estamos muito felizes em poder avançar com essa política educacional das águas, dos campos e das florestas que, para nós, é uma das mais caras do ponto de vista histórico e da dignidade social”, destacou. “Esse seminário é um coroamento muito especial com essa plateia de professores, educadores, acadêmicos, alunos e a comunidade aqui presentes na universidade, não poderia ser melhor, deixo aqui minha total gratidão”, completou.
O seminário objetivou a construção da política municipal de educação de campo, das águas e das florestas. Os palestrantes foram os professores-doutores da Universidade Federal do Pará, Salomão Hage e Marcia Bittencourt.
Fórum – O ambiente educacional também foi propício ao convite para participação dos educadores nos debates do Fórum Municipal de Mudanças Climáticas, criado por meio de Decreto Municipal para ouvir a sociedade em propostas para melhoria do meio ambiente da capital paraense, que sofre com ataques do chamado efeito estufa e grande concentração de gases poluentes do transporte urbano. A secretária executiva do FMMC, professora Marinor Brito, esteve no seminário atendendo a coordenação e chamou atenção à importância do momento e da necessidade de participação popular.
“Não podemos receber uma Conferência Internacional do Clima (COP-30) sem estarmos preparados com nosso pensar amazônico”, disse ela, que destacou ainda outras ferramentas que a Prefeituras está realizando para melhorar a cidade. “Estamos com a revisão do Plano Diretor de Belém e novo sistema de coletas de resíduos sólidos então, precisamos participar dos debates e quero convidar a todos para colaborar com esse processo democrático e de mudança social”, disse.
Cultura – Não se pode falar de uma educação diferenciada. É preciso também mostrar elementos culturais. A mesa do seminário foi ornamentada com acessórios da cultura ribeirinha como paneiros (usado na coleta do açaí) e tipitis (armadilha artesanal para pescar camarão de água doce), além de frutos “in natura” como cacau e jambo. “Estamos muito felizes e acreditando que criação dessa educação o campo, florestas e águas será realidade, em Belém”, disse o professor Salomão Habe.
Confira a rede das nove escolas que atuam nas ilhas de Belém.
Escola Municipal de Educação do Campo (EMEC) Sebastião Quaresma – Combu (Daout)
Anexo Santo Antonio (anexo da Escola Sebastião Quaresma) - Combu (Daout)
Escola Municipal de Educação Infantil (EMEI) Cotijuba – Cotijuba (Daout)
Escola Municipal de Educação do Campo (EMEC) Angelus Nascimento – Estrada de Sucurijuquara, S/N, zona rural - Mosqueiro (Damos)
Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIF) Madalena Travassos – Paraíso Mosqueiro (Damos)
Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIF) Maria Clemildes –Caruaru - Mosqueiro (Damos)
Escola Municipal de Educação Infantil e Ensino Fundamental (EMEIF) Milton Monte – Combu (Daout)
Anexo Nossa Senhora dos Navegantes (anexo da Escola Milton Monte ) - Igarapé do Aurá.
EMEC São José (anexo Escola Milton Monte)
Total de estudantes = 1.342 estudantes (até fevereiro de 2024)
Fonte: SEMEC
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